sexta-feira, 29 de abril de 2011

TEU RISO


A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda, 

mas ao entrar, teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas as portas da vida


Pablo Neruda 

*Foto de Neruda, do Google.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Estação

Parei na estação, cabelos ao vento, vestido esvoaçante, meio desnorteada com tantas vozes . Trago na mala meus amores, minha fé, sorrisos, doces, frutas e quintais. Ainda uns cacarecos que não consegui deixar: fotos, telefonemas, músicas, brincadeiras de roda, banquinhos e um raio de sol teimoso que insistiu em me acompanhar.

Pessoas passam ligeiras, rostos sérios e passos apressados. Penso em lhes oferecer um café – sim, nos cacarecos ainda coloquei o velho bule amassado, o pote de biscoitos e a toalha de xadrez- mas não há tempo, devem ter coisas mais importantes para fazer.

De longe, soa o apito que anuncia lágrimas e sorrisos, chegadas e partidas. O trem vai parando devagar, cuspindo fumaça e barulho.

Apressada, junto tudo e embarco. Encosto a cabeça na janela, aliviada e ansiosa pelo próximo destino. Qual será?

Não sei, não importa...Tudo o que importa já está comigo.

domingo, 17 de abril de 2011

Quando

Quando o dia transbordar cheio de luz
e a noite cintilar com suas cores
os amores em fantasias se reluz
e a luz ofuscará todas as flores

Quando o tempo transbordar noites e dias
e o futuro chegar inesperado
o passado lembraras com nostalgia
e as poesias estarão sempre ao teu lado

Quando os jardins transbordar cheio de flores
em outros campos encontrares só espinhos
são os ninhos de corações sofredores
são poetas procurando seus caminhos.


(Mario Quintana)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Minha Várzea

Venho de um lugar cheio de histórias e encantos. Nas ruas de pedras portuguesas ainda há a igreja matriz, a praça com suas palmeiras centenárias, o casario antigo e colorido que emoldura esse cenário deslumbrante. 



A lojinha ainda está lá, cheia de chapéus de palha, peneiras, regadores de latão, brinquedos dos tempos dos avós, pilões de madeira, abanadores. A feira é uma profusão de cores, cheiros e vozes.


No velho palco os pastoris já não existem, mas o baque de um maracatu alegra as noites de sábado.


E o rio...ah, o rio que banha o nosso canto, chamado pelo poeta de cão sem plumas! Na margem oposta as matas que nos fazem duvidar de que estamos na cidade grande, com suas cachoeiras e ateliês.




Os bordões dos vendedores de algodão doce, picolé, doce japonês, churros, se espalham pela praça e pelo parque que vez por outra aterissa por aqui para a alegria a criançada.

Uns dizem que é longe de tudo, outros dizem que parece uma cidade do interior em plena capital. Estão certos...é isso mesmo que busco: um viver simples onde cada recanto ecoa poesia, arte e simplicidade. Como diria o poeta:

A Várzea Tem Cajazeiras*

A várzea tem cajazeiras...
Cada cajazeira um ninho
Que entre o verde e o azul oscila;
Mocambo de passarinho...

Na baixa funda, mais funda,
Tenros que se alongam verdes:
Verdes de capim de planta;
Vista, mais vista a perder-se.

Maracujás enredados...
Flor de paixão, do martírio;
Entre as balsas dos remansos
Baronesas cor-de-lírio.

Nessa várzea sou plaície,
Vaga dimensão dormente;
Tendida no chão conforme
Sou de mim sombra somente.

Rumos de céus desvelados
Onde chego e me afugento!?
- Já me escuto como em sonho
De tão longe que me ausento!

Em redes de ramos verdes
Me estendo como um caminho,
Me espreguiço dessa várzea,
E me embalo desse ninho.


*Joaquim Cardozo

sábado, 9 de abril de 2011

Diário de um cão no abrigo


Os seus olhos encontraram os meus, enquanto ela caminhava pelo corredor olhando apreensivamente para dentro dos canis. Imediatamente, senti sua necessidade e sabia que tinha de ajudá-la. Abanei minha cauda, não tão entusiasticamente para não assustá-la.
 
Quando ela parou em frente ao meu canil, tampei sua visão para que não visse o que eu tinha feito, no canto de trás. Não queria que ela soubesse que ninguém ainda havia me levado para um passeio lá fora. Às vêzes, os funcionários do abrigo estão muito ocupados e não gostaria que ela pensasse mal deles.


Enquanto ela lia as informações a meu respeito, no cartão pendurado na porta do canil, eu desejava que ela não sentisse pena de mim, por causa do meu passado. Só tenho o futuro pela frente e quero fazer diferença na vida de alguém. Ela se ajoelhou e mandou beijinhos para mim. Encostei meus ombros e minha cabeça na grade, para confortá-la.

As pontas de seus dedos acariciaram meu pescoço; ela estava ansiosa por companhia. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e, então, elevei uma de minhas patas para assegurá-la de que tudo estaria bem. Logo, a porta de meu canil se abriu e o seu sorriso era tão brilhante que, imediatamente, pulei em seus braços. Prometi mantê-la em segurança.

Prometi estar sempre ao seu lado. Prometi fazer todo o possível, para ver aquele sorriso radiante e o brilho em seus olhos. Tive muita sorte dela ter vindo até o meu corredor. Há ainda tantas pessoas por aí, que nunca caminharam pelos corredores...

Tantas para serem salvas...
Pelo menos, pude salvar uma.

Autor: Desconhecido

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Antiga história Cherokee



Uma noite um velho Índio Cherokee contou ao seu neto sobre uma luta que estava a acontecer dentro dele.

Ele disse, “Meu filho, é entre dois lobos. Um é mau: raiva, inveja, tristeza, desgosto, arrependimento, ganância, arrogância, auto-piedade, culpa, ressentimento, inferioridade, mentiras, falso orgulho, superioridade e ego. O outro é bom: alegria, paz, amor, esperança, serenidade, humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade, compaixão e fé”. 

O neto pensou sobre isso por um minuto e então respondeu ao seu avô: “ Qual o lobo que vence?” O velho Cherokee respondeu simplesmente: “ Aquele que eu alimento”. 

*Autor desconhecido