quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Em retrospectiva



Já em ritmo de final de ano, faço uma retrospectiva dos momentos vividos e posso dizer que 2012 foi um ano de muitas surpresas e aprendizados. Um ano que começou mais ou menos igual a tantos outros, com muito trabalho, algum descanso, sorrisos, família, tranquilidade, alvoroço, silêncios e sons. Como tantos outros...

A grande surpresa chegou há poucos meses na forma de uma gravidez inesperada e muito celebrada. Mais um filho, outro presente divino a fazer parte das nossas vidas... E os nossos dias que ficaram ainda mais coloridos um dia se tornaram cinzentos, às oito semanas de gestação, com a descoberta de que o coraçãozinho do nosso bebê amado já não batia mais. A descoberta, a internação e tudo o que ocorreu desde então ainda machucam muito. Foi há um mês.

Pude então descobrir como a dor também pode nos fazer crescer. Perceber que o amor não tem tempo para acontecer, que poucos dias de uma presença podem deixar um vazio imenso na ausência. Que todo o amor contido na maternidade inunda o coração muito antes do que se pensa. E talvez o maior aprendizado de todos seja saber que Deus nos ama infinitamente e que tudo o que ele permite é para o nosso bem. Se fosse para esse serzinho tão amado sofrer de alguma forma aqui neste mundo, preferiria sem dúvida deixá-lo ficar sob os cuidados de Deus. Mas esta dolorosa lição eu ainda estou aprendendo um pouco a cada dia.

Se tenho motivos para celebrar o ano que se encerra? Sim, sem dúvida. Em meio ao vendaval de emoções em que me vi mergulhada pude constatar os cuidados e o amor de Deus. Tenho uma familia maravilhosa, amigos muito queridos, gosto de sentir os milagres e as alegrias das coisas mais simples. E ainda por cima tenho uma estrelinha no céu a iluminar a minha vida - presentes tão valiosos têm que ser celebrados.

Deixo o texto do professor Aluísio do blog http://sonhosdeumprofessor.blogspot.com.br/ como mensagem da Natal para todos:


O NATAL VERDADEIRO
Texto de Aluísio Cavalcante Jr.


Silêncio!

O Natal está chegando.
Já podemos ouvir os sons que chegam das ruas.
Já podemos ver as árvores enfeitadas de luzes.

Na televisão muitas propagandas falam do Natal.
Crianças correm e pedem presentes.
As lojas se enchem de pessoas que correm de um lado ao outro
Cheias de pacotes.
Comemoram-se as compras, as vendas, o consumo.


Mas o verdadeiro Natal não é esse.
O verdadeiro Natal chega silencioso a cada vida,
E toma conta de cada coração
Que não tenha perdido a doçura de sentir.

Este natal chega de graça,
E também cheio de graça,
Trazido pelo brilho suave da mais bela das luzes,
A luz da fé.


Por isso neste Natal
Mais que presentes é preciso distribuir amor.
É preciso abraçar nossos amigos.
Dividir a nossa mesa com aqueles que têm fome.

É preciso amar nossas famílias.
Caminhar com os nossos filhos.
Reaprender a doçura de sentir.
Sentir como é bom estar vivo.
Sentir como é bom ter um lar.

Sentir a grandeza do amor de Deus
Por meio do presente maior que poderia nos ser dado:
Seu filho Jesus.

E cada um que celebre esta noite.
Cada homem, cada mulher,

Que entenda que o Natal não é consumo, é doação.
Que entenda que o Natal não é uma data, é celebração.
Que sinta o coração encher-se de esperança.

Tem a obrigação de ensinar a cada dia,
O valor da fé, da amizade, da solidariedade,
E celebrar o verdadeiro nascimento de Jesus,
Que nasceu para que o mundo fosse melhor.
Que nasceu para que o mundo fosse amor.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Esta visita indesejada


Hoje lendo o texto de um amigo que falava sobre sua excessiva ansiedade, dei umas boas risadas e também me reconheci em vários relatos. Será que a ansiedade precisa mesmo estar presente de forma tão incisiva em nossas vidas?

Onde andarão a contemplação, a serenidade, a paz e até mesmo a vida? Sim, porque a espera aflita, ansiosa, nos impede de viver o hoje. E esse hoje certamente traz, junto com as sua preocupações, muita beleza e encanto. No entanto, cegos a isto, perseguimos obsessivamente o futuro como se ele fosse a única causa e consequencia da nossa vida.

Desacelerar...é algo que gosto de por em prática, ainda que por alguns minutos, no momento exato entre uma visita mal educada da ansiedade e outra.

Uma volta no meu jardinzinho pequeno e simples já dá uma ideia do que é necessário à sobrevivência. Onde eu estava que deixei de perceber as florezinhas desabrochando e inundando as noites com seu perfume? E aquela pitanguinha nova que nasceu na árvore que nós mesmos plantamos? As borboletas amarelas e ligeiras estavam aqui o tempo todo? O fícus que era tão pequeno já dá esta sombra gostosa? Basta uma volta pelo jardinzinho...

“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.”Filipenses

*Foto da web

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Perfeito...

"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar." 
Eduardo Galeano

sexta-feira, 27 de julho de 2012

TRÊS DIAS PARA VER


Por Helen Keller

O que você olharia se tivesse apenas três dias de visão?
Helen Keller (1880-1968), uma mulher extraordinária, cega, surda e muda desde bebê, nos chama a atenção para a apreciação de nossos sentidos, algo que normalmente não percebemos. Apenas de posse do sentido do tato e uma perseverança inigualável, sob a orientação de Anne Sullivan Macy, Keller pôde aprender a ler e escrever pelo método Braille, chegando mesmo a falar, por imitação das vibrações da garganta de sua preceptora, as quais captava com as pontas dos dedos. O esforço de sua mente em procurar se comunicar com o exterior teve como resultado o afloramento de uma inteligência excepcional, considerada a maior vitória individual da história da educação. Ela foi uma educadora, escritora e advogada de cegos. Tinha muita ambição e grande poder de realização. Ao lado de Sullivan, percorreu vários países do mundo promovendo campanhas para melhorar a situação dos deficientes visuais e auditivos. É considerada uma das grandes heroínas do mundo.  A Srta. Helen alterou nossa percepção do deficiente.


Publicado no Reader’s Digest (Seleções) há 70 anos. Texto selecionado por Silvia Helena Cardoso

Várias vezes pensei que seria uma benção se todo ser humano, de repente, ficasse cego e surdo por alguns dias no principio da vida adulta. As trevas o fariam apreciar mais a visão e o silencio lhe ensinaria as alegrias do som.

De vez em quando testo meus amigos que enxergam para descobrir o que eles vêem. Há pouco tempo perguntei a uma amiga que voltava de um longo passeio pelo bosque o que ela observara. “Nada de especial”, foi à resposta.

Como é possível, pensei, caminhar durante uma hora pelos bosques e não ver nada digno de nota? Eu, que não posso ver, apenas pelo tacto encontro centenas de objetos que me interessam. Sinto a delicada simetria de uma folha. Passo as mãos pela casca lisa de uma bétula ou pelo tronco áspero de um pinheiro. Na primavera, toco os galhos das árvores na esperança de encontrar um botão, o primeiro sinal da natureza despertando após o sono do inverno. Por vezes, quando tenho muita sorte, pouso suavemente a mão numa arvorezinha e sinto o palpitar feliz de um pássaro cantando.

Às vezes meu coração anseia por ver tudo isso. Se consigo ter tanto prazer com um simples toque, quanta beleza poderia ser revelada pela visão! E imaginei o que mais gostaria de ver se pudesse enxergar, digamos por apenas três dias.

Eu dividiria esse período em três partes. No primeiro dia gostaria de ver as pessoas cuja bondade e companhias fizeram minha vida valer a pena. Não sei o que é olhar dentro do coração de um amigo pelas “janelas da alma”, os olhos. Só consigo “ver” as linhas de um rosto por meio das pontas dos dedos. Posso perceber o riso, a tristeza e muitas outras emoções. Conheço meus amigos pelo que toco em seus rostos.

Como deve ser mais fácil e muito mais satisfatório para você, que pode ver, perceber num instante as qualidades essenciais de outra pessoa ao observar as sutilezas de sua expressão, o tremor de um músculo, a agitação das mãos. Mas será que já lhe ocorreu usar a visão para perscrutar a natureza íntima de um amigo? Será que a maioria de vocês que enxergam não se limita a ver por alto as feições externas de uma fisionomia e se dar por satisfeita?

Por exemplo, você seria capaz de descrever com precisão o rosto de cinco bons amigos? Como experiência, perguntei a alguns maridos qual a exata cor dos olhos de suas mulheres e muitos deles confessaram, encabulados, que não sabiam.

Ah, tudo que eu veria se tivesse o dom da visão por apenas três dias!

O primeiro dia seria muito ocupado. Eu reuniria todos os meus amigos queridos e olharia seus rostos por muito tempo, imprimindo em minha mente as provas exteriores da beleza que existe dentro deles. Também fixaria os olhos no rosto de um bebê, para poder ter a visão da beleza ansiosa e inocente que precede a consciência individual dos conflitos que a vida apresenta. Gostaria de ver os livros que já foram lidos para mim e que me revelaram os meandros mais profundos da vida humana. E gostaria de olhar nos olhos fiéis e confiantes de meus cães, o pequeno scottie terrier e o vigoroso dinamarquês.

À tarde daria um longo passeio pela floresta, intoxicando meus olhos com belezas da natureza. E rezaria pela glória de um pôr-do-sol colorido. Creio que nessa noite não conseguiria dormir.

No dia seguinte eu me levantaria ao amanhecer para assistir ao empolgante milagre da noite se transformando em dia. Contemplaria assombrado o magnífico panorama de luz com que o Sol desperta a Terra adormecida.

Esse dia eu dedicaria a uma breve visão do mundo, passado e presente. Como gostaria de ver o desfile do progresso do homem, visitaria os museus. Ali meus olhos, veriam a história condensada da Terra -- os animais e as raças dos homens em seu ambiente natural; gigantescas carcaças de dinossauros e mastodontes que vagavam pelo planeta antes da chegada do homem, que, com sua baixa estatura e seu cérebro poderoso, dominaria o reino animal.

Minha parada seguinte seria o Museu de Artes. Conheço bem, pelas minhas mãos, os deuses e as deusas esculpidos da antiga terra do Nilo. Já senti pelo tacto as cópias dos frisos do Paternon e a beleza rítmica do ataque dos guerreiros atenienses. As feições nodosas e barbadas de Homero me são caras, pois também ele conheceu a cegueira.
Assim, nesse meu segundo dia, tentaria sondar a alma do homem por meio de sua arte. Veria então o que conheci pelo tacto. Mais maravilhoso ainda, todo o magnífico mundo da pintura me seria apresentado. Mas eu poderia ter apenas uma impressão superficial. Dizem os pintores que, para se apreciar a arte, real e profundamente, é preciso educar o olhar. É preciso, pela experiência, avaliar o mérito das linhas, da composição, da forma e da cor. Se eu tivesse a visão, ficaria muito feliz por me entregar a um estudo tão fascinante.

À noite de meu segundo dia seria passada no teatro ou no cinema. Como gostaria de ver a figura fascinante de Hamlet ou o tempestuoso Falstaff no colorido cenário elisabetano! Não posso desfrutar da beleza do movimento rítmico senão numa esfera restricta ao toque de minhas mãos. Só posso imaginar vagamente a graça de uma bailarina, como Pavlova, embora conheça algo do prazer do ritmo, pois muitas vezes sinto o compasso da música vibrando através do piso. Imagino que o movimento cadenciado seja um dos espetáculos mais agradáveis do mundo. Entendi algo sobre isso, deslizando os dedos pelas linhas de um mármore esculpido; se essa graça estática pode ser tão encantadora, deve ser mesmo muito mais forte a emoção de ver a graça em movimento.

Na manhã seguinte, ávida por conhecer novos deleites, novas revelações de beleza, mais uma vez receberia a aurora. Hoje, o terceiro dia, passarei no mundo do trabalho, nos ambientes dos homens que tratam do negócio da vida. A cidade é o meu destino.
Primeiro, paro numa esquina movimentada, apenas olhando para as pessoas, tentando, por sua aparência, entender algo sobre seu dia-a-dia. Vejo sorrisos e fico feliz. Vejo uma séria determinação e me orgulho. Vejo o sofrimento e me compadeço.
Caminhando pela 5ª Avenida, em Nova York, deixo meu olhar vagar, sem se fixar em nenhum objeto em especial, vendo apenas um caleidoscópio fervilhando de cores. Tenho certeza de que o colorido dos vestidos das mulheres movendo-se na multidão deve ser uma cena espetacular, da qual eu nunca me cansaria. Mas talvez, se pudesse enxergar, eu seria como a maioria das mulheres – interessadas demais na moda para dar atenção ao esplendor das cores em meio à massa.

Da 5ª Avenida dou um giro pela cidade – vou aos bairros pobres, às fábricas, aos parques onde as crianças brincam. Viajo pelo mundo visitando os bairros estrangeiros. E meus olhos estão sempre bem abertos tanto para as cenas de felicidade quanto para as de tristeza, de modo que eu possa descobrir como as pessoas vivem e trabalham, e compreendê-las melhor.

Meu terceiro dia de visão está chegando ao fim. Talvez haja muitas atividades a que devesse dedicar as poucas horas restantes, mas aço que na noite desse último dia vou voltar depressa a um teatro e ver uma peça cômica, para poder apreciar as implicações da comédia no espírito humano.

À meia-noite, uma escuridão permanente outra vez se cerraria sobre mim. Claro, nesses três curtos dias eu não teria visto tudo que queria ver. Só quando as trevas descessem de novo é que me daria conta do quanto eu deixei de apreciar.

Talvez este resumo não se adapte ao programa que você faria se soubesse que estava prestes a perder a visão. Nas sei que, se encarasse esse destino, usaria seus olhos como nunca usara antes. Tudo quanto visse lhe pareceria novo. Seus olhos tocariam e abraçariam cada objeto que surgisse em seu campo visual. Então, finalmente, você veria de verdade, e um novo mundo de beleza se abriria para você.

Eu, que sou cega, posso dar uma sugestão àqueles que vêem: usem seus olhos como se amanhã fossem perder a visão. E o mesmo se aplica aos outros sentidos. Ouça a música das vozes, o canto dos pássaros, os possantes acordes de uma orquestra, como se amanhã fossem ficar surdos. Toquem cada objeto como se amanhã perdessem o tacto. Sintam o perfume das flores, saboreiem cada bocado, como se amanhã não mais sentissem aromas nem gostos. Usem ao máximo todos os sentidos; goze de todas as facetas do prazer e da beleza que o mundo lhes revela pelos vários meios de contacto fornecidos pela natureza. Mas, de todos os sentidos, estou certa de que a visão deve ser o mais delicioso.